Defesa pessoal e segurança pública para as guardas municipais

Publicado em: 31 de março de 2017
Publicado por: Migração do Site

O mês de março é dedicado às mulheres. Para celebrar as conquistas históricas na sociedade e enfrentar os desafios que esta oferece, as mulheres da guarda municipal realizaram um momento de confraternização e treinamento de forma diferenciada.

A guarda municipal feminina Marilucia Aparecida da Silva, conta que momentos como este são muito importantes para fortalecer os laços entre as 15 servidoras do setor. “Ser mulher na segurança pública é um desafio, principalmente porque ainda enfrentamos preconceito do público e também de alguns colegas de trabalho. Estamos aqui por mérito e queremos desempenhar nosso papel com eficiência. Isso muitas vezes é uma forma de resistência e até afronta a muitas pessoas que ainda não aceitam as mulheres nesse tipo de cargo”, afirma.

Assim é importante trazer, para as guardas veteranas e estreantes, a formação quanto ao papel da mulher na área de segurança. Numa roda de conversa, o Investigador da Polícia Civil João Paulo da Silva passou para elas um breve histórico da violência contra a mulher e sua história de resistência social. “No Brasil, desde a carta de Pero Vaz de Caminha a mulher já é classificada como objeto. Ao longo dos séculos seu papel de subserviente e a pressão sofrida por elas ao longo dos anos arrancou das mulheres até o seu direito à feminilidade, no qual elas exercem as suas características e as habilidades que tem de melhor”, comentou.

João Paulo apontou ainda para o fato de que, na segurança pública, a presença das mulheres trouxe também a estratégia. “Por terem estatura e força biologicamente menores que o homem, as mulheres se portam de forma diferenciada o que fez aprimorar as táticas de segurança pública desde então. Além disso, as mulheres sabem partilhar e gerenciar melhor as situações o que acrescenta muito à nossa atuação”, reafirmou o instrutor.

O setor de segurança pública no Brasil, só abriu espaço para as mulheres em 1955, quando foi criada a Polícia Feminina no estado de São Paulo. De lá pra cá, as mulheres enfrentaram muita resistência no setor já que comumente eram encaminhadas para os serviços administrativos e quase nunca trabalhavam nas ruas. Atualmente cresceu o número daquelas que são inseridas no policiamento ostensivo, mas ainda há muitos desafios. “Cabe a nós continuar buscando nossos direitos, cientes de que a luta, resistência e atuação de muitas mulheres antes de nós é que conquistaram o espaço que temos hoje. E nós, mulheres na segurança pública atualmente, é que vamos abrir caminho para outras que virão”, ressaltou a escrivã da Policia Civil Rafaela Castro.

Rafaela coordena também a Delegacia da Violência contra mulher, Defesa ao idoso, Família e violência sexual. Ela abordou com as guardas o tema da Leia Maria da Penha e suas recentes adaptações, como a consideração dos casais homoafetivos  e classificação do feminicídio como crime hediondo. A instrutora ressaltou também que as mulheres da guarda municipal devem sempre buscar formação na área para estarem atualizadas com o setor e buscar o crescimento pessoal.

Durante o momento, a guarda Altenora ressaltou a importância de buscar justiça nos casos de violência contra a mulher. “Por ter vivido recentemente uma agressão por parte do meu companheiro de 10 anos, sei o que é ter que lutar pela própria vida. Dentro do sistema enfrentamos a morosidade já que, após o trabalho ágil da polícia em atender meu caso de agressão, o processo ficou parado na justiça e meu agressor continua impune. Além disso, o mercado de trabalho não valoriza nós mulheres”, enfatizou.

Marilucia Aparecida é veterana da guarda municipal de Pirapora, ela conta que organizou este momento junto com suas colegas para que elas se sintam ainda mais seguras para exercer a profissão. “Como aprendiz do Kung Fu sei que precisamos pensar em nossa postura a todo momento. É fato que continuamos sofrendo com o estereótipo aplicado pelos homens colegas de trabalho. Os olhares, boatos e tratamento que recebemos da maioria não é de companheirismo. Por isso, entre nós mulheres, precisamos nos formar e fortalecer”, ressaltou.

 

Treinamento prático

Para exercitar a defesa pessoal e o posicionamento profissional mediante o público, as guardas municipais receberam uma aula prática ministrada pelo atleta e treinador Uiraquitan Eugênio. “Buscamos trabalhar exercícios de quebra de resistência do agressor que tende a segurar o agente público e também a saída e recobra de guarda quando o agressor consegue imobilizar a servidora. Trabalhamos essa aula a partir dos conceitos das artes marciais, que trabalham com os portais, que é a distancia que o opositor percorre para agredir alguém, e também a leitura corporal do opositor”, explicou o treinador.

Outro conceito trabalhado foi o cuidado com a atitude perante o público e também com os equipamentos de trabalho, por exemplo, as algemas. Uiraquitan ressaltou também a postura e compostura: “De acordo com a ética profissional, o comportamento delas enquanto agentes da segurança pública deve se basear na firmeza e verbalização adequada com o público. Assim garantem e inspiram o respeito a elas enquanto servidoras públicas”, finalizou.